Unidades Curriculares
Arte Portuguesa no Mundo: Intercâmbios e Hibridismos
2º Ciclo
O programa estuda, em termos globais, o notabilíssimo património histórico-artístico dos espaços de influência portuguesa no mundo, entre o século XVI e o nosso tempo. Tais testemunhos, como marca identitária profunda, envolvem todos os campos da produção, da arquitectura ao urbanismo, da escultura à imaginária, do mobiliário à talha, da pintura ao desenho, da cerâmica ao azulejo, do douramento à policromia, dos têxteis às pratas, do esgrafito ao estuque, do marfim ao nam-ban, e outras formas das artes decorativas. Escolhem-se exemplos significativos da construção e das artes subsidiárias à arquitectura (religiosa, militar e civil), nas suas componentes dialectais e suas morfologias distintivas, produzidas nos períodos do Tardo-gótico, do "Manuelino", do Renascimento, do Maneirismo, do Barroco, do Neoclássico, do Romantismo, passando pelos ciclos revivalista de Oitocentos e até algumas tendências artísticas contemporâneas. Valorizam-se, quer os bens procedente desses espaços, que incluem os territórios outrora integrados no antigo Império (Brasil, África, Marrocos, Estado da Índia, Macau, Timor), quer de outras latitudes geográficas onde a marca lusófona se fez sentir (Ceilão, Indonésia, Japão) e deixou testemunhos durante a época colonial e após a Descolonização. Analisam-se ainda as manifestações artísticas europeias e europeizadas (incluindo obras remetidas de Portugal para os territórios ultramarinos), as correntes artísticas locais (a arte dos "reinóis" e das oficinas que assumem sincretismos e processos de simbiose) e os fenómenos de miscigenação e hibridismo formal, com as suas tónicas de perpetuação, fusões de estilemas e comunhão de modelos, que tanto caracterizam, e diferenciam, estes patrimónios de tronco lusófono e atestam o seu peso e importância no conjunto do Património do Mundo.
O desconhecimento que subsiste sobre este património colonial ligado aos territórios sob influência portuguesa - pese o caudal de pesquisas já realizadas, e a crescente revalorização de tais acervos no mercado das artes, sobretudo a nível internacional - deriva, por um lado, da preponderância de uma certa dimensão redutora por parte dos estudiosos, que exaltaram um certo exotismo com que o património foi observado, desfocando-o das suas reais potencialidades artístico-simbólicas e, por outro, da arrogante auto-menorização tantas vezes votada às produções dos espaços de antiga dominação portuguesa no Mundo, vistas tão-só como repercussão de modelos eruditos europeus e dentro de uma mera dimensão de pitoresco. Sobreviveu também, com seus contornos saudosistas, uma não disfarçada perspectiva histórica e uma má consciência sobre o passado colonial, que conduz à apreciação desfocada de tal herança. Trata-se de uma reflexão de conceitos que cabe, também, no âmbito desta disciplina.
Docente
Vítor Serrão
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