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Exposição | O livro e a iluminura judaica em Portugal no final da Idade Média

Exposição | O livro e a iluminura judaica em Portugal no final da Idade Média
Lisboa, Biblioteca Nacional de Portugal | 26 de fevereiro a 15 de maio de 2015
pub: 13 de dezembro de 2014

Esta exposição destaca a relevância cultural e artística dos judeus portugueses no final da Idade Média, dando-se particular relevo ao estudo do códice iluminado hebraico. A exposição pretende divulgar junto do público um património que representou um momento alto da arte e da cultura judaica, e portuguesa, do século XV. Um património que atualmente é de difícil acesso e que se encontra disperso, pelo que esta exposição constitui uma ótima oportunidade para o conhecer melhor.


A exposição organiza-se em cinco pequenos núcleos temáticos. O primeiro é dedicado ao livro e à iluminura sefardita (ibérica), remetendo para a produção peninsular no seu todo, entre os séculos XIII e XV. A partir de dois códices existentes na BNP, relacionados entre si, pretende-se salientar o largo espectro cronológico e estilístico abarcado pela produção da iluminura judaica peninsular. Expõem-se, em lugar de destaque, a Bíblia de Cervera (BNP Il. 72), copiada e iluminada em Navarra entre 1299 e 1300, e o facsimile da Bíblia Kennicott (Bodleian Lib., MS Kennicott 1), copiada e decorada em A Corunha em 1476. Além da curiosidade de vermos como um manuscrito mais antigo serviu de fonte de inspiração, quase dois séculos mais tarde, para outro iluminador, estas obras, no seu conjunto, revelam a extensão do diálogo estilístico que os iluminadores sefarditas estabeleceram com a sociedade circundante, adotando e adaptando soluções plásticas plenamente inspiradas na arte gótica, na arte tardo-gótica e na arte islâmica e mudéjar peninsular. 
 
O segundo núcleo é dedicado à Escola de Lisboa de iluminura, que esteve ativa no último quartel do século XV. O valor artístico e a relevância histórica destas iluminuras têm passado francamente despercebidos aos historiadores de arte portugueses e, consequentemente, à maior parte dos cidadãos interessados em matérias culturais e artísticas do passado. Através do recurso a fac-similes e imagens digitalizadas destes manuscritos, nenhum dos quais se conserva atualmente em bibliotecas portuguesas, pretende-se destacar a idiossincrasia desta escola de iluminura e apresentar as suas principais caraterísticas em termos plásticos. Estas obras demonstram o elevado grau de acomodação cultural dos judeus portugueses, nomeadamente os judeus de Lisboa, e o apreço que tinham pelo livro religioso de aparato, à semelhança das elites cristãs da mesma época. 
 
O terceiro núcleo visa apontar sinais da interação cultural e artística entre judeus e cristãos em Portugal no final da Idade Média, tanto em termos de cultura científica e teológica, como em termos artísticos, em particular ao nível das relações entre a iluminura judaica portuguesa tardo-medieval e a iluminura cristã da mesma época. Apesar de ser possível identificar vários pontos de contacto, o enfoque da exposição recai no campo da iluminura cristã, em particular na decoração em filigrana monocromática e nas cercaduras fito-zoomórficas com enrolamentos acânticos. A pertença a um mesmo horizonte cultural e artístico, associado ao consumo do livro de aparato, explica as afinidades existentes entre os livros cristãos e os livros judaicos. Importa destacar, no entanto, que entre as décadas de 1470 e 1490 o foco mais rico de produção de iluminura feita em Portugal foi, precisamente, a Escola de Lisboa de iluminura judaica. Nessa altura os manuscritos iluminados cristãos de maior valor artístico eram livros importados da Flandres e do Norte de França, sobretudo Livros de Horas.
 
O quarto núcleo desta exposição é dedicado ao livro impresso. Como se sabe a tipografia foi introduzida em Portugal pelos judeus. O primeiro incunábulo português é um Pentateuco hebraico impresso em Faro em 1487, na oficina de Samuel Gacon, antecedendo em dois anos a publicação, em Chaves, do primeiro incunábulo em língua portuguesa. Além da precocidade, é de destacar a proliferação de edições impressas judaicas entre 1487 e 1495, distribuídas por Faro, Leiria e Lisboa, testemunhando o elevado mercado existente em Portugal para o consumo do livro hebraico, sobretudo o de natureza religiosa. É precisamente esta grande apetência pelo livro, muito mais acentuada, proporcionalmente, do que entre a comunidade cristã, que explica a elevada produção de livros judaicos no último terço do século XV, sejam livros manuscritos ou livros impressos. 
 
Finalmente, o último núcleo da exposição é dedicado à controvérsia religiosa judaico-cristã em Portugal, onde emergem uma série de ódios e incompreensões mútuas, resultantes de uma radicalização religiosa de parte a parte. Na mesma época em que encontramos múltiplos sinais de intensa interação social, cultural e artística entre a comunidade judaica portuguesa e a comunidade cristã, existem também vários sinais de exclusão e radicalização mútua do discurso religioso. Estas vias contraditórias, totalmente congruentes com uma sociedade complexa e variada, composta por múltiplos segmentos, estão na base dos dois caminhos seguidos após os eventos de 1496/1497: a conversão ou o exílio dos judeus; sendo que o poder da época contribuiu para implementar à força a primeira e, simultaneamente, tudo fez para evitar o segundo. 

Mais informações no website do projeto Hebrew Illumination in Portugal

 

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